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As transformações no Ensino e a importância de manter o IFC presente

quinta-feira, 22 de abril de 2021

IFC e a Pandemia: O Instituto Federal Catarinense apresenta uma série de matérias sobre os desafios enfrentados pela instituição após pouco mais de um ano de pandemia mundial de Covid-19. Os textos serão publicados semanalmente, com o objetivo de traçar um panorama completo e transparente sobre os desafios enfrentados pela instituição neste período tão grave da história de nosso país.

Ao longo destes mais de 365 dias de pandemia, as atividades que talvez tenham sofrido as mudanças mais extensas e aparentes, no âmbito do IFC, são as de Ensino. A gravidade da situação fez com que, de repente, estudantes e professores precisassem se adaptar a uma experiência de aula totalmente nova: longe dos colegas e do Instituto, em casa, fazendo uso de tecnologias com as quais muitos tiveram pouco ou nenhum contato anterior. 

De acordo com a pró-reitora de Ensino do IFC, professora Josefa Surek, a constatação de que o sistema de aulas iria sofrer mudanças veio rápido. “Desde o início, quando houve manifestações do Conselho Nacional de Educação sobre a possibilidade de desenvolver o ensino de forma remota, já havia uma solicitação da comunidade para que o Instituto não parasse e disponibilizasse atividades nessa modalidade para quem tivesse interesse”, conta. “A perspectiva ainda era de que a interrupção das aulas não duraria tanto; talvez uns 30 dias, como foi anteriormente com a Gripe A em algumas localidades. Então, naquele momento, a gente entendeu o ensino remoto como uma estratégia para evitar acúmulo de atividades durante esse período”. Foi neste momento que o IFC começou a desenvolver suas Atividades de Ensino Remotas (AERs) — um processo que abordaremos em detalhes nos próximos parágrafos.  

No entanto, como hoje sabemos bem, o quadro não evoluiu conforme essa previsão inicial. Os 30 dias viraram 60, e depois 90… e o sentimento de que a pandemia seria algo passageiro começou a esmaecer. “Nessa época, ainda tínhamos a perspectiva de que ‘não, até maio volta’; depois, ‘até junho volta’. Conforme nos aproximamos das férias previstas para julho, ainda pensávamos que ‘não, mas em agosto retornaremos’. Isso não era um sentimento individual meu, mas sim de toda a comunidade que dialogava sobre as atividades remotas. Na volta das férias, ainda havia uma expectativa — não, acho que ‘esperança’ é a palavra mais adequada — de que a gente voltasse em outubro, que era quando começaria o novo semestre letivo (embora o calendário já estivesse atrasado). 

Mesmo assim, foi naquele mesmo agosto que percebemos de fato que a coisa seria de longo prazo, e que as Atividades de Ensino Remotas (AERs) não poderiam mais ser opcionais, pois não daria pra realizar reposições em concomitância com uma volta à presencialidade”. O Conselho Superior (Consuper) definiu, então,  que a oferta de AERs seria uma obrigatoriedade dos docentes (a não ser que a disciplina não permitisse).

Ensino Remoto, desenvolvimento e aprendizado

As Atividades de Ensino Remotas tiveram início no fim de março, como uma forma de diminuir o prejuízo pedagógico causado pela suspensão das aulas presenciais. Segundo a pró-reitora, o modelo utilizado pelo IFC foi elaborado a partir de esforço coletivo entre a gestão e os campi, e segue em desenvolvimento permanente. “As pró-reitorias de Ensino (Proex), Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propi) e Extensão (Proex) trabalham em conjunto com os Departamentos de Ensino, Pesquisa e Extensão (DEPEs) — que faziam ainda o elo de comunicação com a comunidade de cada campus —, com o Grupo de Trabalho criado exclusivamente para tratar das AERs e com o Consuper. O foco é sistematizar estratégias para abordar não só as limitações que a situação sanitária estabelece, mas também as angústias e anseios da comunidade acadêmica. Nossa preocupação é: como preservar a vida e, ao mesmo tempo, se fazer Escola, se manter presente neste período? Como atuar em um contexto em que a presencialidade — que entendemos como fundamental nas interações e no processo educativo — não é possível?”

“A surpresa da pandemia nos levou à compreensão de que os estudantes estariam sujeitos a uma nova e difícil situação, e que Escola seria até mesmo um escape para os alunos nesse contexto. Por isso, é essencial compreender que, até mesmo para além do conteúdo, o compromisso mais importante é seguirmos presentes na vida destes alunos enquanto Instituição”, completa o diretor de Ensino da Proen, Reginaldo Placido.

“Geralmente, quando precisamos discutir questões de tal profundidade, que mudam drasticamente as características da Instituição, passamos meses discutindo, construindo, consolidando — e, neste caso, a gente precisava pensar tudo isso em curto prazo”, prossegue Surek. “Então é um desafio constante; cada momento de inflexão acaba gerando uma mudança… conforme a gente vivencia as AERs, consegue visualizar o que precisa ser aprimorado”.

Uma etapa importante neste processo de construção constante ocorreu logo após os primeiros 30 dias de atividades remotas (período pelo qual elas foram inicialmente autorizadas), quando o Calendário Acadêmico foi suspenso e o trabalho realizado até ali foi revisado e avaliado, com o intuito de aprimorar os processos. “Naquele primeiro momento, dada a emergência do contexto, a gente trabalhou somente com os DEPEs. Vários campi trouxeram contribuições dos Núcleos Pedagógicos, Coordenações de Cursos, e assim por diante”, conta Surek. “Quando chegou o hora de discutir a renovação ou não das AERs, surgiram muitos questionamentos sobre os procedimentos durante a reunião do Consuper — que criou então o Grupo de Trabalho das AERs para acompanhar o trabalho que estávamos desenvolvendo”. 

Plácido destaca mais um obstáculo: não havia legislação específica que embasasse as características das AERs. “As leis educacionais preveem a Educação à Distância (EaD), que tem outro foco, outro objetivo, outra construção. A pandemia também nos pegou de surpresa nesse ponto de vista; tivemos que adaptar a presencialidade para a forma remota sem o amparo de uma modalidade previamente descrita pela legislação”. “Quando se fala em EaD, se fala em cursos voltados para mais de dez mil estudantes, que foram pensados em sua estrutura e composição de currículo para serem ofertados à distância. Não é, absolutamente, o caso das AERs”, completa Josefa. 

Ações complementares, auxílio e suporte

Para a pró-reitora, o período inicial de pausa foi importante para organizar ações cruciais. “Implementamos formação para os nossos servidores, atrelada ao uso de tecnologias de informação e comunicação; pensamos e desenvolvemos o Auxílio Inclusão Digital, para que estudantes em situação de vulnerabilidade pudessem contratar um plano de internet e participar das atividades remotas…  enfim, providências pensadas para subsidiar melhor a comunidade em relação ao desenvolvimento do trabalho remoto no Ensino”.

A Proen implementou ainda outras iniciativas de combate à pandemia — como, por exemplo, a adesão ao Programa Alunos Conectados, do Ministério da Educação. No entanto, na opinião de Josefa, as ações mais significativas são aquelas que transcendem as necessidades práticas. “Trabalhamos arduamente no sentido de sermos os mais acolhedores possíveis, e para que essa postura contagiasse a forma de a comunidade lidar com esse processo. Eu não sei se isso é tão visível, mas é um esforço contínuo. Buscamos também adaptar as ações administrativas que permeiam setores mais ligados ao Ensino, para que pudessem ser realizadas de forma remota e não impactassem processos como matrículas, acompanhamento dos programas de auxílio estudantil e assim por diante. As equipes dos campi atuaram com afinco nesse sentido: para que, mesmo à distância, cada estudante, cada família tivesse o suporte necessário. 

Nesse contexto, o diretor de Ensino da Proen destacou a manutenção e intensificação das bolsas de monitoria e projetos de Ensino, e a sua adaptação para a modalidade remota. “Como o foco no aprendizado é outro, e as formas de aprender são outras, durante a pandemia, manter estas ações é crucial para atender os estudantes mais vulneráveis”.

Perspectivas para o futuro

A pró-reitora de Ensino indica como a grande vitória do IFC neste período a manutenção da presença enquanto Escola na vida de seus estudantes e da comunidade acadêmica em geral. “Os campi se dedicaram intensamente à busca ativa dos estudantes e à criação de novas estratégias para os docentes. O engajamento da nossa instituição nessa aproximação, na manutenção desse vínculo, foi uma conquista. Obviamente, estamos ansiosos para retomar o contato presencial, mas, dentro dos limites que nós temos, e sempre com muito a repensar e melhorar, conseguimos estar presentes, não deixar nossos alunos sozinhos e cumprir esse papel de escola pública”.

“A pandemia atuou com espécie uma lupa sobre essa relação com os estudantes”, acrescenta Plácido. “Ampliou e trouxe à luz as dificuldades, mas também deixou evidentes acertos que às vezes não percebemos;  ações dos campi que atendem diretamente às necessidades dos estudantes, desde a doação de cestas básicas até ligações diretas para oferecer atendimento psicopedagógico. Hoje, compreendemos melhor a importância desse vínculo. O trabalho remoto trouxe ainda a necessidade constante de se discutir mais a fundo os processos, fazer muitas reuniões… o que nos obrigou a dialogar mais, ouvir mais”.

Para o diretor de Ensino da Proen, o grande desafio a ser enfrentado será a realização de aulas presenciais simultaneamente com AERs, quando da volta à normalidade. “Para abordar essa tarefa, precisamos permanecer com a mente aberta para aprender com as novidades e entender que os procedimentos não estão cristalizados”. “A Educação é um processo de evolução contínua, e nosso papel enquanto educadores é repensar sempre os recursos educativos. A pandemia trouxe a obrigação de fazer isso em um ritmo muito mais acelerado”, completa Surek. 

“Quando se tem a perspectiva de volta à presencialidade, há sempre aquele pensamento de ‘ah, vai passar, logo a gente volta às condições para as quais estamos preparados, com que estamos acostumados’”, acrescenta a pró-reitora. “Conforme a pandemia se prolonga, a lida com as incertezas vai se agravando; os acúmulos decorrentes do isolamento permeiam mais profundamente a vida de nossa comunidade acadêmica. Tem também a questão da infraestrutura tecnológica do IFC, que era voltada à presencialidade. Então, há diversos fatores que precisamos trabalhar para melhorar a interação entre instituição e comunidade no contexto remoto”. 

Além disso, quando a comunidade puder voltar a frequentar os campi, o Instituto terá que realizar um grande esforço de reposição de aulas — não só em razão dos estudantes que, por algum motivo, não participaram das AERs, mas também em virtude de atividades práticas que não puderam ser adaptadas para a modalidade remota. “Aqueles que não tiveram acesso às atividades remotas serão acolhidos e incluídos dentro dos cursos conforme o que puderam acompanhar previamente. Já as aulas práticas serão priorizadas na volta à presencialidade, conforme prevê o próprio Plano de Contingência. E, para acertar o Calendário Acadêmico, além da previsão de sábados letivos, haverá o auxílio das próprias AERs como estratégia complementar.”

“Na história recente, não tivemos uma tragédia tão grande como essa pandemia. Nem nós, nem nossos pais, nem nossos avós passaram por uma experiência como essa, que vai marcar a História do país e do planeta”, argumenta Plácido. “No retorno à presencialidade, diante de tantas transformações que tivemos que implementar, a relação com o Ensino será bastante diferente. Porém, temos a tranquilidade de afirmar que, por mais drásticas que fossem algumas das providências implementadas, elas eram também as mais seguras. E, em meio a um panorama nacional tão catastrófico, no qual se chega a 4 mil mortes por dia, não noticiamos mortes de estudantes e servidores do IFC”.

Josefa finaliza ressaltando que, para chegar a esses resultados, os processos de escuta foram muito intensos. “Como o Reginaldo apontou anteriormente, nós fizemos muitas, muitas reuniões! Levamos às vezes três, quatro horas para discutir um tema só. E aí você pode perguntar: ‘para que tanto tempo? Para que a gente pudesse ouvir. Às vezes, decidir pouco… mas acolher bastante. Para que as pessoas conseguissem externalizar suas angústias, seus momentos, trocar experiências e construir coletivamente o melhor caminho possível dentro desse universo de incertezas e contradições”.

Confira também a entrevista com a reitora do IFC, Sônia Regina Fernandes, publicada em “Desafios, vitórias e quebras de paradigmas: a batalha do IFC contra o coronavírus”, e como funciona o Comitê de Crise criado pelo Instituto para lidar com a Covid-19, em  “Resiliência e amadurecimento: Comitê de Crise do IFC atua para minimizar os impactos da pandemia”.

Texto: Cecom/Reitoria/Thomás Müller
Imagem: Cecom/Reitoria/Andréa Santana