No Brasil, 20 de novembro é dia Nacional da Consciência Negra. Portanto, durante todo o mês várias ações são desenvolvidas no país com a proposta de refletir e valorizar as tradições e ancestralidades dos negros. Neste ano, no Instituto Federal Catarinense (IFC), promoveram-se diversas atividades em diferentes campi da instituição, de forma online, para debater sobre as questões que envolvem racismo, participação dos negros na construção da sociedade, papel da educação na luta antirracista, entre outros temas. As ações foram organizadas pelos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), grupos e projetos de ensino, pesquisa e extensão que envolvem servidores, estudantes e comunidade em geral.

Além de todas as atividades alusivas ao mês da Consciência Negra, os Neabi e demais projetos desenvolvem ações ao longo do ano. Entre eles, está o projeto de extensão IFCapoeirando, do Campus São Francisco do Sul, coordenado pelo professor Ewerton Luiz Silva com apoio do bolsista Marcelo Almeida, estudante de Logística e mestre de Capoeira.

Silva conta que a ideia deste projeto deu-se pela sua experiência pessoal com a Capoeira. Após pesquisas, identificou que em São Francisco do Sul havia manifestações mais expressivas de Capoeira nos anos 90 e 2000. Mas, atualmente, não são comuns as rodas de capoeira em locais públicos da cidade. “Capoeira foi muito importante para minha formação como sujeito, foi como aprendi muito sobre a cultura afro-brasileira para além de uma prática desportiva. Pelo projeto temos a intenção de proporcionar práxis da Capoeira no espaço do campus, envolvendo a comunidade interna e externa, promovendo o resgate e valorização da cultura afro-brasileira no município”, explica o professor.

Para Almeida, mestre de Capoeira e envolvido com aulas de Capoeira de Angola na cidade, todas as formas de cultura afrodescendente empoderam e fortalecem o território material e imaterial que o povo preto pode e deve ocupar. “Toda minha história foi mudada por causa da Capoeira. Sempre busco levá-la em qualquer local de convívio em grupo que vou, porque ela liberta e dá coragem ao ser humano. A Capoeira é o símbolo maior da luta pela igualdade racial desde a senzala. Como disse Mandela, ‘ninguém nasce racista, e, se podem aprender a ser racistas, podem aprender a amar o povo negro’. Por isso, a identificação do povo negro com a sociedade brasileira deveria acontecer desde os primeiros anos por meio do ensino da história dos afrodescendentes, mas isso nem sempre é feito nas escolas, apesar de estar previsto em Lei”, destaca o estudante.

Importância da educação como uma das ferramentas de promoção e reconhecimento da contribuição negra na construção da sociedade brasileira também é destacada pela reitora do IFC, Sônia Fernandes. “Na formação das pessoas negras, o IFC tem um papel fundamental de empoderá-las por meio do conhecimento e dos processos educativos, culturais, sociais, esportivos, científicos e tecnológicos proporcionados pela instituição a todos os nossos estudantes, independentemente de cor da pele. À medida que o IFC garante isso numa dimensão humana, numa dimensão de um currículo que não separa essas questões, na minha visão, fortalece o combate ao racismo e a luta contra a desigualdade racial vindo ao encontro de uma perspectiva de equidade e da busca pela resiliência”, salienta Fernandes.

Segundo a reitora, respeitar as raízes de cada um é possível ao conhecer a nossa própria história e como ela se constituiu. “A educação é fundamental para que isso aconteça. Não se aplica só aos nossos estudantes e servidores pretos, mas a toda a nossa comunidade. Enfim, devemos compreender que as origens indígenas, afro e demais origens que compõem a cultura e a diversidade étnica desse país são a beleza que nos caracteriza. A compreensão, o respeito e o acolhimento disso tudo faz parte do processo humano emancipador e respeitador da condição humana”, defende.

Atualmente, a reitora do IFC também é a vice-presidente de Assuntos Acadêmicos no Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal (Conif). No âmbito da Rede Federal, Fernandes destaca especialmente a agenda de políticas públicas federais, porque a criação dos Institutos Federais, em 2008, constituiu-se na concretude de uma política pública no âmbito da educação que fez com que o acesso, especialmente das pessoas negras fosse aumentado, a partir das políticas de cotas raciais na direção da redução das desigualdades raciais e da promoção da equidade.

“Em um contexto de expansão e interiorização da educação pública federal no país, a criação da Rede Federal altera significativamente as possibilidades de acesso da população negra, especialmente quando vem na direção do que foi significativo no cenário político entre 2000 e 2010. No aspecto analítico mais amplo, é possível dizer que as demandas sociais se reconfiguraram a partir de um debate forte sobre a cidadania, e, nessa perspectiva da territorialização e das políticas identitárias em defesa dos povos excluídos, então os Institutos Federais representam uma das diferenças nas perspectivas de inclusão das pessoas negras no contexto da ampliação e da interiorização dos campi que passam a estar em lugares onde nunca se esteve, inclusive em áreas quilombolas, não só no contexto catarinense, mas também em outros lugares do Brasil”, ressalta a reitora.

Origem dos Institutos Federais e luta pela inclusão social e racial

Políticas públicas para inclusão social e racial estão diretamente ligadas à origem dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. As instituições que formam a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica são originárias, em grande parte, das dezenove Escolas de Aprendizes Artífices criadas por Nilo Peçanha, a partir do Decreto Presidencial 7.566, em 1909.

Reconhecido como o único negro a ocupar o cargo de Presidente do Brasil, Nilo Peçanha (1909-1910), instituiu o Decreto 7.566 para a criação das Escolas, nas capitais dos estados, tendo como objetivo principal ofertar ensino profissional primário gratuito, preferencialmente, para “os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-los adquirir hábitos e trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade ignorante, escola do vício e do crime”.

Em 2011, Nilo Peçanha foi declarado Patrono da Educação Profissional e Tecnológica por meio da Lei 12.417, de 9 de junho.

Atividades sobre a Consciência Negra no IFC

Acesse o site dos campi e conheça as atividades desenvolvidas em cada unidade.
Para conhecer o IFCapoeirando, acesse o perfil do projeto no Instagram.

Texto: Cecom/Reitoria/Rosiane Magalhães
Fotos: arquivos pessoais ou institucionais